Dentro de um baú de madeira envelhecida, um
homem encontra vários saquinhos contendo pózinhos coloridos... Em
cada saco uma cor diferente...
No primeiro, ele nota que o pó é amarelo... ouro! Ele lembra do metal
mais precioso da terra, e passa a chamar esse saquinho de riqueza...
No segundo saquinho ele vê a cor azul envolver o pó. Ele lembra do
azul do céu e imagina a liberdade dos pássaros voarem em tão altos
picos de altitude...! E para ele, essa cor lhe dá a sensação de
liberdade...
No terceiro saquinho ele vê a cor vermelha. Imediatamente ele se
lembra da cor do líquido que acabara de sair de seus braços na busca
pelo baú dentre a mata, machucando-se nos galhos que era obrigado a
quebrar para que lhe liberassem a passagem... a passagem que o
levaria até o baú... o baú! Sim! Essa cor lhe lembrava o desejo... o
desejo de ir ao encontro de algo... que se quer muito! A paixão! O
vermelho é a cor que tinge a paixão... E ele passou a denominar a
cor vermelha pela palavra paixão!
No quarto saquinho, ele se deparou com a cor branca! A cor da luz... O
homem relacionou a cor branca com a luz do sol escaldante do meio
dia a lhe ferir os olhos... Ele lembrou que olhava para o sol, mesmo
com as vistas ardidas... Mas que valia tanto a pena o brilho intenso
do astro rei, que ele preferia se submeter ao sacrifício de olhar
para tal luz! Branca... intensamente branca. Ele também se lembrou
que a luz branca o ajudava muito para que ele enxergasse o caminho
que percorria.
Era bom! Ele podia antever alguma espécie de perigo, e assim evitar
machucar-se mais... Mesmo a luz machucando sua visão era fiel
laboriosa junto à ele. Isso era bom...
No quinto saquinho, ele notou a presença da cor preta. Ele se lembrou
na mesma hora da noite e seus mistérios... O escuro. O não ver...
O não saber o que está por traz de algo... A cor preta passou a ser
o desconhecido... Algo parecido com aquilo que ele sentia quando
imaginava o que ele iria fazer com aqueles saquinhos quando
terminasse de conhece-los... o escuro... o não saber...
O homem ficou pensativo por algum tempo para decidir o que fazer com
os saquinhos...
No primeiro a riqueza... o ouro do amarelo...
No segundo o pó azul da liberdade...
No terceiro o vermelho sangüíneo da paixão...
No quarto a cor branca da luz!
E no último, o negro, o desconhecido...
Difícil decidir o que fazer com coisas que talvez não agrade à todos,
mas que são necessárias para que possamos existir.
Olhando para o saquinho com o pó amarelo, ele imaginou o homem sem
riquezas... Muito ruim não possuir riquezas... O saber...
Imaginou o vazio do não saber... Imaginou o vazio de não atingir,
prosperar... o conseguir...Não! O homem não podia viver sem
riquezas. Guardou o saquinho com o pó amarelo no bolso.
Olhou para o segundo. O azul da liberdade... Ele imediatamente
imaginou-se sem liberdade.. Trancado em uma cela. Trancado em suas
idéias, proibido de algo... Uma pressão em seu peito o fez guardar o
saquinho no bolso imediatamente.
Olhou para o saquinho de pó vermelho... a paixão, o desejo, a ânsia de
chegar à algo...Doía passar pelos galhos, mas ele necessitava
impor-se ao sofrimento, senão não estaria diante do baú que tão
difícil fora de encontrar...Era rude a dor, porém vence-la, o fizera
chegar até lá. Tratou de guardar humilde o saquinho em seu bolso...
O quarto saquinho o seduziu imediatamente por sua cor branca... A luz
que o ajudava em seu existir... A luz que iluminava seus passos
antes mesmo que ele os pisasse. Mesmo o escuro existindo, quando a
luz se projetava por sobre ele, criava uma espécie de mistura das
duas cores... cinza, como uma sombra. A luz era forte, por que até
pelas sombras o guiava...Também como os outros, guardou feliz, o
saquinho contendo pó branco, no bolso.
Lá estava, como que esperando por ele, o saquinho com o pó negro.
Negro como carvão. O desconhecido. O escuro. O não saber... Não!
Imediatamente fechou o baú deixando o saquinho negro lá dentro.
Levantou-se, sacudiu as roupas para limpa-las da terra e do mato que
nela grudaram e pôs-se à caminho, de volta. Conforme ia adentrando a
mata, pegou-se pensando em que o fizera ingressar em tão bizarra
empresa. Por que tinha andado quilômetros e mais quilômetros de mata
fechada para chegar até lá? Foi-se delineando a visão de seu antigo
sonho de encontrar aquele velho baú.
Soubera de sua existência através do avô que costumava lhe contar
velhas histórias da região. Era a vontade de conhecer o que ele
ainda não conhecera. Era a sensação do que o aguardava dentro do
velho baú. O desconhecido era o responsável por ele estar ali. O
escuro do não saber e querer saber, o desejo de saber, a liberdade
de decidir ir até o baú, a riqueza do alcançar, a paixão e as
vitórias sobre a dor, que quase lhe dava prazer, quando as vencia e
finalmente a luz a lhe guiar lhe ajudando chegar até o objeto
desconhecido.
Ele compreendeu.
Voltou os poucos metros que avançara, abaixou-se, abriu o velho baú de
madeira e pegou sabiamente o saquinho de cor negra em forma de pó.
Percebeu finalmente que todos os homens haveriam de desejar todos os
saquinhos! Pois que necessitavam de tudo o que neles continham.
A vida é feita de riquezas. São boas! Agradeçamos.
É feita também de liberdade para decidirmos se o que nos é melhor.
Mesmo doendo como o sangue que lhe jorrara das veias, o homem
compreendia que se não fosse por isso, não quebraria os galhos,
liberando para si a passagem.
A luz, é claro o ajudara na empreitada, norteando-lhe o caminho que o
levaria até o baú: o objeto de sua curiosidade. O desconhecido
tornou-se então para ele a curiosidade. E finalmente ele compreendeu
o que deveria fazer com os saquinhos. Devia espalhar entre os homens
para que eles usando todas as cores dos saquinhos pudessem vencer
algo a que se propusessem.
Este homem pediu-me que entregasse um pouco dos saquinhos à você...!