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  Uma colheita inesperada
 
    
  Uma escola rural. Os
  estudantes consistiam exclusivamente de crianças pobres.
 Depois que as crianças tinham terminado com sucesso a leitura de um livro,
  foram recompensadas lhes sendo permitido levar livro, fitas cassete e um
  walkman para casa durante o fim de semana.
 
 Acreditava-se que isto daria um reforço adicional à aprendizagem. Quando
  chegou a sexta-feira, Nicole deixou a escola, levando um livro, as fitas e o
  walkman. O acordo era que as crianças retornariam, na segunda-feira, com tudo
  o que levara para casa.
 
 Na segunda-feira, Nicole não trouxe os livros e nem as fitas de volta à
  escola. Todo dia ela dizia que se esquecera ou sequer dava uma desculpa. A
  professora sabia que isto não era normal em se tratando de Nicole. Algo
  estava errado.
 
 Três semanas se passaram. E nada do livro ou da fita!
 Então, um dia, a jovem mãe de Nicole - vestida em uniforme de garçonete -
  veio à escola. Disse a secretária da escola que queria falar com a
  professora de leitura, do lado de fora da escola.
 
 Com compreensível apreensão, a professora foi encontrar-se com a mãe de
  Nicole. A mãe, agarrada ao livro, fita e walkman, disse à professora que
  queria explicar porque Nicole não tinha devolvido o material como combinado.
  Nicole não podia ser responsabilizada; ela era a responsável.
 
 Estava claro para a professora todo o desconforto sentido pela mãe de Nicole
  tentando dizer exatamente porque tinha ficado tanto tempo sem trazer de volta
  os materiais de leitura.
 Seguiu-se um longo e incômodo silêncio, a professora esperou.
 
 As primeiras palavras vieram a duras penas. Então de repente, a mãe,
  parecendo ter encontrado sua zona de conforto, começou a contar sua história.
 - Quando Nicole chegou em casa e disse que estava aprendendo a ler, eu não
  acreditei. Ninguém em minha família sabe ler. Meus pais não sabem ler. Meus
  irmãos e irmãs não sabem ler. E eu não sabia ler!
 
 E continuou,
 - Quando Nicole trouxe este livro e leu para mim, eu lhe perguntei, "Como
  você aprendeu isto?" e Nicole me respondeu, "é fácil, mãe. Eu
  apenas escuto a fita e acompanho no livro. Quando eu preciso, posso apenas
  escutar ou ler junto com a professora até que eu possa ler tudo sozinha. Você
  também pode fazê-lo, mãe!"
 
 Engolindo em seco, continuou,
 - Eu não acreditei em Nicole. Mas eu sabia que eu tinha que tentar...
 A razão
  de Nicole não trazer o material de volta à escola era porque eu não podia
  deixar! Eu tinha que aprender a ler como minha menina.
 Houve uma curta pausa, então completou,
 - Posso ler para você?
 
 E lá na escola da sua criança, a jovem mãe, uma criança ainda quando teve
  a sua criança, começou a ler o livro para a professora. O tempo todo, lágrimas
  escorriam pela face da jovem. Em certo momento, a professora também se
  emocionou. Qualquer um que visse as duas certamente pensaria que algo trágico
  tinha acontecido. Quem poderia imaginar a razão daquelas lágrimas?
 
 A mãe de Nicole foi explicar que com a ajuda daquele livro ela tinha
  aprendido a ler!
 Não havia nenhuma necessidade de se exclamar aleluias! Já abundavam em cada
  palavra daquela mãe. Estavam expressos no semblante da confiança
  recentemente adquirida.
 
 Para a professora de Nicole, aquele parecia um momento sagrado; nenhuma
  palavra poderia expressá-lo. Admirada, sentou-se encantada com o efeito
  inesperado e involuntário do seu programa de leitura. Isto serviu como uma
  confirmação de porque fora educada para ensinar, e que coisas maravilhosas
  aconteciam e não era por acidente. Refletia que, ironicamente, o melhor benefício
  tinha sido o resultado nesta jovem mãe que não fazia parte de seus planos.
 
 Quebrando suas reflexões, a mãe anunciou que, apesar das dúvidas e graças
  à sua Nicole, tinha feito o que parecia impossível: tinha lido para a sua própria
  mãe! A Bíblia! Na manhã de Natal!
 (James Elwood Conner)
 
 
 
 1951
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