O bom senso é o que há de mais bem distribuído no mundo 
 pois cada um pensa estar bem provido dele.
(René Descartes)

 
 


A cobra

Caminhando por uma estrada de terra batida, no meio da mata, Lúcia ia tranqüila.
Morava num sítio das redondezas e dirigia-se à escola, distante uns quinhentos metros de sua casa.

De súbito, dentre a vegetação, surgiu, se arrastando, enorme e ameaçadora cobra. Colocando-se no meio do caminho, ela armou o bote e ficou esperando.
A princípio, assustada, a menina parou. Pensou em voltar. Naquele momento, porém, lembrou-se de tudo o que já aprendera. Sua mãe sempre lhe dizia que tudo na Natureza é criação de Deus, e que devemos respeitar qualquer forma de vida, fosse humana, animal ou vegetal.

Assim, enchendo-se de coragem, tendo o cuidado de manter uma boa distância, dirigiu-se ao réptil dizendo:
- Minha amiga Dona Cobra. Nada tenho contra a senhora. Ao contrário, somos todos irmãos, porque filhos de um mesmo Pai, que é Deus. Estou indo para a escola e preciso passar por este lugar, que a senhora está ocupando. Assim, se fizer gentileza de deixar-me passar, eu lhe ficarei muito grata.

A voz da menina, serena e doce, aquietou o animal, que a contemplava com seus olhinhos miúdos. Depois, parecendo compreender o que lhe foi dito, coleou pela terra lentamente, desaparecendo no meio do mato.

Lúcia, grata a Deus pela proteção que lhe dera, continuou seu trajeto até a escola.
Durante horas, ali permaneceu entregue às atividades escolares, esquecendo-se do incidente.

Mais tarde, quase no horário de tocar o sinal para a saída, chegou alguém. Era um homem que tinha socorrido um menino. Ainda assustado, contou ele:
- Eu vinha a cavalo pela estradinha, quando vi um moleque ao longe, na minha frente. Ele tinha um pau na mão, e brincava, batendo nas árvores à beira do caminho, assustando os passarinhos e afugentando os pequenos animais. Percebi quando uma enorme cobra surgiu à sua frente. Quis avisá-lo do perigo, gritar para que ficasse quieto, sem fazer movimentos bruscos, mas não deu tempo. O menino, ágil, levantou o porrete, tentando esmagar a cobra. Ela, porém, foi mais rápida e, dando um bote certeiro, picou-o.
- E o garoto, como está? - perguntou a professora, aflita.
- Felizmente, foi socorrido há tempo. Encontra-se no hospital da cidade, sob cuidados médicos. Como ele estivesse com uma mochila escolar, pelo horário, cheguei à conclusão de que era um aluno que tinha "matado" a aula, e a trouxe para a senhora. Aqui está ela! - disse ele, entregando a mochila à professora.
- É do Roberto! Bem que estranhei ele não ter comparecido hoje à escola! Muito obrigada, senhor. E os pais dele, já foram informados?
- Exatamente por isso vim aqui. Não sei onde ele mora. Se me disser o endereço do garoto, irei avisar à família dele.

A professora explicou onde Roberto morava, e o bom homem despediu-se, apressado. Após a saída dele, Lúcia comentou:
- Deve ser a mesma cobra que encontrei hoje cedo na estrada!
- É verdade? Você viu uma cobra? Conte-nos! Como foi isso? - quis saber a professora.

E Lúcia, diante da classe que a ouvia com atenção, relatou o que tinha acontecido com ela, como se portou diante do perigo e como a cobra se afastou, sem molestá-la.
O silêncio se fez na sala. Todos estavam perplexos e pensativos. 
Ficou muito claro como o comportamento de cada um determinara uma reação diferente no animal. O respeito de Lúcia e a agressão de Roberto geraram conseqüências diversas.


(Tia Célia - Jornal O Imortal)


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