Ser pai
Ser pai é ser especial. É, na
masculinidade, guardar doçura. É ser
afetuoso.
Ser pai é, sendo administrador,
administrar
tão bem o tempo, que nunca faltem
minutos para atender o telefonema do
filho, com atenção. Um telefonema
que fale do entusiasmo por ter
conseguido fazer um gol para o seu
time, na escola.
Ser pai é não se afogar no mar dos
negócios, mesmo que na sua qualidade
de executivo, muitas sejam as horas
que a profissão lhe exija. É, sendo
lavrador,
preparar
a terra do coração do filho para
receber as sementes do bem,
regando-as todos os dias com o seu
carinho demonstrando, na prática,
que nenhuma tarefa é mais importante
do que as que tenham a ver com os
sentimentos das criaturas.
Ser pai é, sendo músico, ter
sensibilidade suficiente para
colocar no pentagrama da vida do seu
filho as mais sublimes notas da
compreensão, da tolerância e do
amor. Sendo poeta,
escrever
as mais belas rimas da ternura com
os versos simples do companheirismo
e da alegria.
Ser pai é, na qualidade de mecânico
hábil, estar apto a consertar os
estragos que as idéias alheias
possam estabelecer na estrutura
delicada do caráter do seu filho. É
saber
utilizar
com maestria as ferramentas de
precisão, aferindo oportunidade e
valores para as lições que o
conduzirão na vida.
Ser pai é, como escultor habilidoso,
esculpir formas mais primorosas no
caráter do filho. Como instrutor,
ministrar-lhe as lições da sua
experiência pessoal, e falar-lhe das
lições imortais da vida maior. Ser
pai é, sendo motorista, não esquecer
de que deve dirigir a vida do seu
filho pela rota segura do dever, a
fim de o
transformar
em um cidadão honrado e um homem de
bem.
Ser pai é, sendo magistrado, saber
julgar com imparcialidade as
traquinagens do seu rebento,
analisando todos os fatos e
dispondo-se a ouvir todas as partes
envolvidas, a fim de sentenciar com
justiça. Ser pai é, sendo médico,
ter a notabilidade de um cirurgião
para, em tempo certo, realizar a
cirurgia de profundidade,
descobrindo
na intimidade do espírito, as
tendências do filho e as trabalhar,
burilando-as.
Ser pai é, sendo enfermeiro, não
esquecer de colocar curativos nos
machucados do joelho, do cotovelo e
providenciar medicamento apropriado
para coração partido pela dor da
primeira desilusão de amor.
Ser pai é,
sendo ator,
deixar de brilhar tanto nos palcos
do mundo para se apresentar à
restrita platéia de um garoto que o
espera, todos os dias, para assistir
a sua encenação da mais bela peça
teatral, a da paternidade.
Ser pai é, sendo cantor, modular a
voz e criar canções de ninar para
embalar o filho cansado das
brincadeiras do dia. Ser pai é,
sendo desportista, ter braços rijos
para suspender o filho com firmeza,
abraçá-lo com vigor e lhe
confessar
baixinho: te amo muito.